Doença Inflamatória Intestinal

As DII são doenças que acometem indivíduos com uma predisposição genética. Em determinado momento da vida um gatilho desencadeia uma inflamação, que ao invés de resolver após o gatilho já ter sido eliminado ou controlado, esta inflamação vai se perpetuar por período indefinido, na maioria das vezes por toda a vida; ou seja, são doenças sem cura, onde o principal objetivo do tratamento é controlar a inflamação, o que chamamos de indução da remissão. Não se sabe exatamente qual (quais) é (são) este(s) gatilho(s), mas possivelmente uma exposição a algum alimento específico ou agente infeccioso e também alteração da flora intestinal.

Podem se manifestar em pacientes com qualquer idade, sendo mais comuns nos adultos jovens.

Há duas formas principais de DII: Doença de Crohn (DC) e Retocolite Ulcerativa (RCU), mas, em alguns casos não é possível fazer esta diferenciação, quando passa a ser chamada de DII não classificada.

A DC pode acometer qualquer região do aparelho digestivo, da boca ao ânus, comprometendo segmentos focais intercalados por segmentos saudáveis.

Já a RCU acomete somente o intestino grosso (cólon) em extensão variável, ocupando toda a circunferência de forma contínua.

A extensão e intensidade da inflamação nas DII varia de paciente para paciente e até em um mesmo indivíduo, sendo bastante comum a alternância de períodos de atividade com períodos de remissão, mesmo em pacientes sob tratamento.

Os sintomas mais comuns são: diarreia crônica (com ou sem sangue), dor abdominal, emagrecimento, anemia, fadiga. Raramente os pacientes não apresentam sintoma algum, sendo o diagnóstico feito acidentalmente em exames de rotina. Complicações da doença também podem causar sintomas (vide abaixo).

As DII podem se acompanhar de sintomas / sinais não relacionados ao aparelho digestivo, chamadas manifestações extra-intestinais, que podem, inclusive, surgir antes (meses a anos) dos sintomas intestinais. Exemplos: doenças de pele (psoríase, eritema nodoso, pioderma gangrenoso), lesões oculares (uveíte), sintomas articulares (dor e edema das juntas), doenças do fígado (colangite esclerosante primária), entre outros.

Devem-se levar em consideração os sintomas, exame físico e história familiar positiva para DII. No entanto, exames são essenciais para o diagnóstico. São eles:

– Exames laboratoriais (sangue e fezes), que podem nos dar informações sobre presença de anemia, alteração de enzimas do fígado, estado nutricional e aumento de provas de atividade inflamatória.

– Exames endoscópicos (endoscopia digestiva alta, colonoscopia, enteroscopia), que mostram as alterações inflamatórias da mucosa (revestimento interno do tubo digestivo).

– Exames de imagem, como ecografia, tomografia e ressonância magnética abdominal.

As mais comuns, relacionadas à DII propriamente dita, são:

– Perfuração intestinal

– Formação de fístulas: comunicações anômalas entre o intestino e outros órgãos, como o próprio intestino, pele, bexiga, vagina, entre outros

– Estenoses; estreitamentos do diâmetro do intestino

– Oclusão intestinal (estenose total)

– Perda da função do órgão

– Câncer do intestino

Pacientes podem apresentar complicações relacionadas às manifestações extra-intestinais e ao uso dos medicamentos. Muitos destes são imunossupressores e aumentam o risco de infecções, doenças de pele, anemia, hepatite, pancreatite, alguns tipos de câncer, entre outros.

Atualmente dispomos de vários medicamentos para tratamento das DII; a escolha vai depender de várias variáveis, como qual DII o paciente apresenta, localização e extensão de acometimento, presença de complicações, fatores que predizem uma evolução pior, entre outros, sendo cada caso discutido individualmente, sempre com envolvimento do paciente na tomada das decisões.

Tabagistas portadores de doença de Crohn devem parar de fumar.

Estado nutricional deve ser avaliado e tratado, se necessário.

Muitas vezes a presença de complicações necessita de tratamento cirúrgico.

Portanto, idealmente a equipe que atende estes pacientes deve ser multidisciplinar, incluindo gastroenterologistas clínicos, cirurgiões experientes em DII e, quando indicados, nutricionistas e psicólogos.