Fígado
O fígado é o segundo maior órgão do corpo e se localiza no lado direito do abdome. É responsável pela produção de diversas proteínas e também da bile. É um órgão que possui capacidade de regeneração, por isso podem ser realizadas cirurgias em que pode ser removido grande parte do parênquima.
As doenças que acometem o fígado são subdivididas em benignas e malignas.
Lesões benignas do fígado
As lesões benignas do fígado são comuns e na maioria das vezes assintomáticas, com diagnóstico incidental (achado por acaso). Porém, em alguns casos, essas lesões podem ter transformação maligna, sendo necessário acompanhamento e/ou tratamento através de cirurgia. Na maioria das vezes o diagnóstico é feito por exame de imagem (tomografia ou ressonância), sem necessidade de biópsia.
São lesões preenchidas por líquido, podendo ser únicos ou múltiplos e não têm uma causa definida. A maioria não causa sintomas e é diagnosticada de forma incidental. Existem alguns tipos de cistos hepáticos:
Cisto simples
É uma lesão benigna sem potencial de malignidade. É importante estabelecer o diagnóstico correto, pois este tipo de cisto pode ser confundido com tumores. Os cistos maiores do que 4,0 cm, podem apresentar complicações como sangramento, ruptura, torção, infecção e compressão local. Em geral não requer tratamento cirúrgico, porém quando indicado, o mais comum é realizar o destelhamento videolaparoscópico do cisto.
Doença policística
É uma doença genética, autossômica dominante que pode acometer outros órgãos e não tem potencial de malignidade. A minoria dos pacientes possui desconforto e dor abdominal. Os cistos podem sangrar, infeccionar ou se romper, mas é muito raro. A imensa maioria não requer tratamento. O tratamento cirúrgico pode ser indicado em pacientes com sintomas debilitantes, como dor intratável, atribuídos aos cistos. Quando indicada a cirurgia, o mais comum é realizar o destelhamento dos cistos maiores por videolaparoscopia, raramente o transplante hepático é indicado. É recomendado fazer o tratamento cirúrgico em centros com experiência em cirurgia hepática.
Cisto hidático
É uma doença parasitária transmitida dos animais para os humanos. Os cistos no fígado surgem por uma infecção pelo Echinococcus granulosus. Os cistos podem romper para o interior da cavidade abdominal ou torácica, espalhando a doença. O tratamento depende da localização, tamanho do cisto e presença de complicações. O tratamento cirúrgico talvez seja a melhor opção.
Cistoadenoma
São tumores císticos raros com potencial de malignidade de até 15%. Geralmente são únicos e variam de 10-20cm. O mais importante é ter o diagnóstico correto, pois existem vários tipos de cistos. O tratamento é cirúrgico, com ressecção de todo o cisto (não pode abrir a cápsula do tumor), com ou sem hepatectomia.
É um tumor benigno do fígado, geralmente assintomático. Mais comum em mulheres, tem causa indefinida e pode estar associado ao uso prolongado de anticoncepcional, anabolizantes e doenças de acúmulo de glicogênio. Pode apresentar sangramento, dor abdominal aguda e possui risco de malignidade. Existem três tipos de adenomas: 1) mutação HNF1a ou esteatótico; 2) inflamatório ou telangiectásico; 3) mutação da b-catenina (maior potencial de malignidade).
O tratamento é controverso, mas a maioria dos serviços do mundo indica ressecção do adenoma quando maiores do que 5,0 cm, história de sangramento ou quando ocorrem em homens, independente do tamanho.
É o tipo mais comum de nódulo benigno do fígado, é formado principalmente por vasos sanguíneos e não tem potencial de malignidade. Na maioria dos casos não causa sintomas e não necessita de tratamento. A cirurgia pode estar indicada nos pacientes sintomáticos ou em alguns casos nos hemangiomas maiores do que 15 cm. Sangramento é uma complicação rara.
É um nódulo benigno do fígado formado pelos hepatócitos (células do fígado) sem potencial de malignidade. Em geral é assintomático e raramente precisa de tratamento cirúrgico. As complicações são infrequentes e parece não ter relação com uso de hormônios.
Lesões malignas primárias do fígado
O colangiocarcinoma é um tumor raro (câncer) que surge nas células das vias biliares, com incidência de 1 a 2 casos a cada 100.000 habitantes e é mais comum entre 50 e 70 anos.
O colangiocarcinoma pode ser intra-hepático (10%) ou extra-hepático (90%), em que ocorre nos ductos biliares fora do fígado (para saber mais clique aqui).
Existem alguns fatores de risco relacionados, dentre eles destacam-se: 1) pacientes com colangite esclerosante e cisto de colédoco; 2) exposição à thorotrast (um contraste utilizado em radiologia no passado); 3) Síndrome de Linch e papilomatose biliar (são doenças raras com pólipos adenomatosos no interior dos canais biliares).
Os sintomas ocorrem quando o tumor obstrui os canais da bile, como: coceira (66%), dor abdominal (30 a 50%), perda de peso (30 a 50%), febre (até 20%) e cansaço. Outros sintomas são fezes claras (acolia) e urina escura (colúria).
O diagnóstico é realizado por exame de imagem (tomografia ou ressonância), são solicitados exames de sangue e marcadores tumorais (CA 19-9 e CEA), que podem vir alterados e são mais úteis no acompanhamento. A biópsia não é recomendada quando há suspeita de colangiocarcinoma pelo exame de imagem.
O tratamento curativo é pela cirurgia, que na maioria das vezes inclui ressecções hepáticas complexas, as quais devem ser realizadas em centros com experiência em cirurgia de fígado.
A quimioterapia está indicada quando a margem (linha entre o tumor e o tecido hepático normal) fica comprometida ou quando há linfonodos positivos após a cirurgia. A quimioterapia neoadjuvante (antes da cirurgia) é controversa na literatura, pois não existem drogas muito efetivas para este tipo de tumor.
A radioterapia raramente é indicada.
O prognóstico desse tipo de tumor não é favorável, com sobrevida de aproximadamente 5 a 10 % em 5 anos.
O paciente deve ser avaliado muito bem e por uma equipe multidisciplinar, pois alguns não têm indicação de cirurgia (seja pela extensão do tumor ou pela condição física do paciente) e devem ser submetidos a tratamentos paliativos com colocação stents para aliviar a icterícia e/ou quimioterapia.
Importante: Pacientes com doenças como colangite esclerosante primária, retocolite ulcerativa, cistos de colédoco e infecções de vias biliares tem um maior risco de colangiocarcinoma, sendo assim, devem ser acompanhados regularmente!
O hepatocarcinoma é um câncer que surge nos hepatócitos (células do fígado) e ocorre mais comumente em paciente com cirrose (leia mais em Cirrose Hepática).
A grande maioria dos pacientes não possui sintomas nos estágios iniciais. Os sintomas mais frequentes são: perda de peso, perda do apetite, fraqueza ou dor abdominal.
O diagnóstico muitas vezes é feito através de exames de imagem de rotina, principalmente em pacientes que estão em acompanhamento por algum tipo de hepatite ou cirrose. Em geral, tomografia e ressonância são suficientes para o diagnóstico, não sendo necessária a realização de biópsia (indicada em casos selecionados). O principal marcador tumoral é a alfafetoproteína, utilizada no acompanhamento.
O tratamento é complexo e envolve uma equipe multidisciplinar.
Os tratamentos com potencial de cura são a cirurgia com a retirada do tumor, o transplante de fígado e a ablação (queimar o tumor).
Quimioterapia e radioterapia convencionais não apresentam bons resultados no tratamento.
Veja as opções de tratamento curativo e suas indicações.
– Hepatectomia (cirurgia para remover o tumor): é o tratamento de escolha em pacientes que não possuem cirrose ou cirrose e consiste em retirar o tumor através de cirurgia aberta (convencional) ou laparoscópica, com uma pequena porção de tecido normal em volta do tumor (margem cirúrgica).
– Transplante de Fígado: o fígado doente é completamente removido e substituído por outro de um doador falecido ou vivo (parte do fígado). É o tratamento de escolha na maioria dos pacientes com cirrose.
Infelizmente, nem todos os pacientes podem ser transplantados, e isto é definido por lei (Portaria nº 1.160, de 29 de maio de 2006): pacientes com tumor único de até 5 cm, ou até 3 tumores, sendo que nenhum maior do que 3 cm, podem ser transplantados.
– Radioablação: consiste em destruir o tumor através de uma corrente de energia elétrica, em que um profissional treinado (radiologista intervencionista) “queima” o tumor de forma percutânea (através de punção pela pele) guiada por tomografia ou ecografia.
Indicada em tumores menores do que 5 cm (o ideal é menor que 3 cm).
Tratamentos não curativos:
Tratamentos não curativos:
– Quimioembolização: consiste na injeção de agente quimioterápico diretamente no tumor, através da artéria que o nutre, seguido da oclusão deste vaso sanguíneo, evitando seu crescimento. Pode ser utilizado em pacientes cirróticos que não estão dentro dos critérios para transplante hepático, devido ao tamanho do tumor (ponte para o transplante).
– Radioembolização: consiste em utilizar radioterapia seletiva, administrada por via intra-arterial (na artéria que nutre o tumor). São administradas milhões de microesferas radioativas, diretamente no tumor, com o objetivo de reduzir o tumor. Pode ser utilizada em pacientes não elegíveis para remoção cirúrgica.
– Quimioterapia: O sorafenibe, interfere na habilidade do tumor de formar novos vasos. Ele é capaz de diminuir ou parar, por um período, o crescimento do tumor. Infelizmente não possibilita a cura.
Cirrose e Transplante Hepático
Em casos avançados de Cirrose (leia mais em Cirrose Hepática), em que há mau funcionamento do fígado, é necessária a realização de um transplante. Para saber como funciona e quando é necessário clique aqui Transplante de Fígado.